Sistema Agroflorestal - Cacauicultura | Parte 1
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Nossa História
Desde 2012 a Organização de Conservação da Terra (OCT) executa projetos utilizando os Sistemas Agroflorestais (SAF) como estratégias para a conservação do Meio Ambiente e geração de renda sustentável. Financiados pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Estado da Bahia (CAR) e pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) as iniciativas acompanharam tecnicamente e capacitaram cerca de 500 Unidades Família, em 17 comunidades na Área de Proteção Ambiental do Pratigi.
Para sustentabilidade das ações dos projetos, em 2015 surge o programa Agricultores Multiplicadores de Agricultura Sustentável, os AMAS. Formado por um grupo piloto de 20 agricultores familiares, os AMAS se destacaram pelas boas práticas adotadas em suas propriedades e pela capacidade de reaplicação dos conhecimentos adquiridos durante os três anos de desenvolvimento dos projetos.
O objetivo é que os AMAS, por terem se apropriado das técnicas de manejo conservacionistas, passem a transmitir essas práticas para outros agricultores, iniciando, deste modo, um ciclo virtuoso de aprendizado.
Esta cartilha surgiu após uma reunião com 16 AMAS, onde, de forma participativa, apresentaram o que aprenderam e praticaram em suas propriedades, discutiram erros e acertos, e registraram suas experiências e percepções sobre a aplicação de práticas para agricultura sustentável.
A cartilha pretende ser um guia de boas práticas para implantação e manejo de SAF construída por agricultores para agricultores. Boa leitura!
O que é SAF?
O sistema de agrofloresta é como se fosse uma empresa de alimentos, uma mistura de cultivos, onde sempre tem plantas produzindo, trazendo qualidade de vida para nossa família.
No SAF cultivamos vários conjuntos de plantas na mesma área: seringueira, cacau, cupuaçu, banana, açaí, jussara, cajá, mamão, mandioca, verduras, árvores nativas e outras plantas. Na área que podíamos plantar 1000 pés de cacau e zelar apenas dessas plantas, estamos tendo mais de 15 tipos de plantas diferentes. A mesma despesa que temos para cuidar de 1000 plantas vamos cuidar de 2000 a 3000, tendo todas ao mesmo tempo ali dentro, com jeito melhor de cuidar.
Com o SAF transformamos uma área improdutiva em uma área que produz. É de grande utilidade para nossa família, pois é de onde tiramos o sustento, é o nosso supermercado rural. Ele dá lucro e preserva o meio ambiente, estamos de olho no futuro.
Traz mudanças e riqueza, podendo durar muitos anos, benefi ciando o pai, os filhos e os netos.
O SAF me tirou da roça dos outros para a minha própria roça!
Implantação e manejo do SAF
Como devemos escolher a área para fazer um SAF?
> O Podemos fazer o SAF em uma área alterada que precisa de recuperação, por exemplo: pastagem sem uso, muito feto, nascente desprotegida, pouco produtiva, cansada da mandioca ou onde foi utilizado o fogo muitas vezes;
> Deve ter bom acesso para facilitar o transporte de mudas e adubos, e também, para que possa ser visitada por pessoas da comunidade que ainda não conhecem um SAF;
> Se possível, devemos evitar áreas muito ladeiradas para facilitar o trabalho;
> O Evitar solos encharcados, com cascalho e muito rasos.
Dicas do agricultor:
“A minha área era de pastagem abandonada. Eu fiz
um roço antes porque eu queria plantar banana,
mas aí a OCT chegou e então eu resolvi fazer o
SAF no lugar. Hoje, eu estou satisfeito com o resultado”.
___
“E m volta de nascente e na beira de rio, acho que
é certo, porque a gente também contribui para
proteger a nascente."
Como devemos fazer a limpeza?
> Podemos usar a roçadeira ou o biscó. Se tiver possibilidade devemos escolher a roçadeira porque o trabalho rende mais que com o biscó. Por exemplo, com o biscó, dependendo da área, leva 11 dias para fazer a limpeza de 1 hectare e com a roçadeira apenas 4 dias de trabalho;
> Devemos capinar apenas as linhas para o plantio, não precisa abrir a área inteira. O mato das ruas (entre linhas) deve ser mantido baixo, para proteger o solo da erosão. Roçamos o mato das ruas e colocamos na linha de plantio, no pé das plantas para adubar.
Dicas do agricultor:
"O veneno não deve ser utilizado. Temos que en-
sinar tecnologia nova, temos que ensinar coi-
sas que não façam mal”.
___
“Não podemos usar o fogo para limpar a área
porque prejudica a terra, polui o ambiente,
mata os bichos, os microorganismos, causa
erosão porque deixa a terra nua, nasce só mato fraco e res-
seca a terra”.
___
“E achei difícil ter que roçar e não poder queimar.
Hoje eu tô feliz com o resultado, antes também
era uma área abandonada”
Como devemos fazer o balizamento?
> O balizamento tem que ser em curva de nível se a terra for ladeirada, se for plana pode ser em linha reta;
> Podemos usar corda, linha, triângulo ou pé de galinha, uma vara para medir a distância entre o pé das plantas e o calcário para marcar onde vão ser abertos os berços;
> Primeiro precisamos fazer a linha mestra, que deve ser com piquetes, depois seguimos marcando os outros berços com o calcário;
> O calcário, além de adiantar o serviço, substitui os piquetes, evitando derrubar mais madeira da mata;
> Com a curva de nível aproveita melhor a terra, usando toda a área.
Dicas do agricultor:
“Devemos acompanhar o jogo da terra, o sentido
do rio, porque facilita o jeito do corpo trabalhar
e aproveita melhor a terra."
Como devemos fazer a coleta de amostras de solo?
Nota técnica:
As análises de rotina geralmente são realizadas com amostras coletadas na profundidade de 0 a 20 cm. No entanto, em diversas situações, essa profundidade não é suficiente para uma recomendação adequada.
Para culturas permanentes, como o cacau, a coleta de amostras deve ser mais profunda, normalmente dividida em duas profundidades, a primeira de 0 – 20 cm e a segunda de 20 – 40 cm. A amostragem nas camadas de baixo (20 – 40 cm) é realizada no mesmo ponto de coleta das camadas de cima (0 – 20 cm), tomando cuidado para não misturar uma com a outra.
Ferramentas:
Enxadão; Trado holandês; Pá de corte; Balde; Saco plástico.
Coleta da Amostra
Para a realização de uma amostragem adequada, devemos escolher um ponto na área para iniciar. Fazemos uma limpeza superficial nesse local (capina, se necessário) com auxílio de um enxadão. Em seguida, com o uso do trado ou enxadão, coletamos uma amostra na profundidade desejada.
Se a ferramenta utilizada for o enxadão, abrimos uma valeta. Com o auxílio de uma pá, retiramos uma fatia de aproximadamente 3 cm de espessura.
Desprezamos as laterais da amostra contida na pá e colocamos a parte do meio em um balde plástico limpo. Devemos repetir essa operação por, pelo menos, 12 vezes na mesma área, caminhando em zigue-zague e coletando em pontos diferentes.
Todo o solo coletado e colocado no balde deverá ser bem misturado. Dessa mistura, devemos retirar uma amostra de cerca de meio quilo, que será colocada em um saco plástico com o nome da propriedade, proprietário, data, nome da área e cultura plantada.
Os pontos de coleta devem estar afastados de casqueiros, formigueiros, matéria orgânica, estradas, casas, caminhos de animais e locais com erosão.
Observação: o resultado da análise de solo deve ser apresentado para um técnico para que recomende corretamente o que precisa ser usado e em que quantidade.
Quais cuidados devemos ter com as mudas que serão plantadas no SAF?
> O ideal quando trabalhamos com mudas de tubete é passar para as sacolas para que fiquem mais fortes e depois plantar na roça. Assim diminuímos as perdas. Plantamos no inverno;
> A seringueira de raiz nua também é melhor plantar primeiro na sacola para diminuir perdas e pegar melhor. Quando tiver com 3 lançamentos pode plantar na roça. Para plantar a raiz nua diretamente na roça devemos observar se a terra está molhada, e socar bem, deixando a muda firmemente plantada. Mesmo assim chega a ter perda de 20%;
> As mudas de cacau devem ser preparadas entre os meses de outubro e novembro, para dar tempo de plantar no inverno. É melhor clonar o cacau ainda no viveiro, pois o pegamento é maior;
> As mudas de bananeira devem estar limpas e tratadas com água sanitária para matar brocas.
Dica do agricultor:
“Quando a muda vem no tubete é melhor passar para o saco,
deixar elas reagirem e plantar na roça no inverno”.
Ficha Técnica
Redação
Anacleto Ferreira da Silva
André da Silva
Antonio Carlos dos Santos
Arival dos Santos Mamédio
Erisvaldo Barbosa dos Santos
Francisca Antônia de Araújo
Jaime de Souza
Jaime Lourenço Silva
Jairo de Souza
Lourivaldo Grima dos Santos
Marivaldo Santos
Martinha da Conceição
Milton da Aleluia dos Santos
Sandro de Jesus Pereira
Valdete Ferreira do Nascimento
Waldemar de Oliveira Bahia
Edição
Ana Paula de Matos
José Eduardo Santos Mamédio
Erika Cotrim
Luciana de Oliveira Gaião
Organização
Esta cartilha foi organizada pela Organização de Conservação da Terra (OCT), a partir de uma oficina realizada com os Agricultores Multiplicadores de Agricultura Sustentável (AMAS).
Volney Fernandes – Diretor Executivo
Ana Paula de Matos – Líder da Pequena Empresa Conservação Produtiva
José Eduardo Santos Mamédio – Coordenador de Projeto
Luciana de Oliveira Gaião – Coordenadora de Campo
Thiago Guedes Viana – Coordenador de Projeto
Silvana Campos da Silva – Coordenadora da Organização Socioprodutiva
Amauri Souza Cruz – Coordenador de ATER
Poliana Oliveira Santos – Prestação de Contas
Camila de Jesus da Silva – Técnica em Agropecuária
Joeli Neres dos Santos – Técnico em Agropecuária
Erika Cotrim – Comunicação
Hércules Saar – Consultor
Salvador Dal Pozzo Trevizan – Colaborador
Bruna Sobral – Planejamento Socioambiental