Sistema Agroflorestal - Cacauicultura | Parte 4
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R E C E I T A S
Biocalda:
A biocalda é um composto líquido feito com diversos componentes minerais misturados a materiais orgânicos como esterco, melaço ou rapadura e plantas. Os ingredientes usados podem variar de uma região para outra, podendo ser substituídos com o que tiver disponível na propriedade. A mistura fermentada produz um composto rico, com vitaminas e hormônios importantes para o equilíbrio das plantas.
A concentração, quantidade que devemos misturar com água para aplicar, depende da cultura. Pode ser aplicada no solo e nas folhas, porque as plantas tem a capacidade de absorver substâncias/nutrientes tanto pelas raízes como pelas folhas.
Além de alimentar as plantas a biocalda funciona como defensor natural contra insetos, ácaros, fungos, bactérias, nematóides e outros. A biocalda deixa a planta bem nutrida, forte, assim as pragas não conseguem atacar.
1) Lançamento de folhas
Aplicar nas folhas ou no solo para adubar e proteger contra pragas.
2) Floração
Aplicar nas folhas para diminuir a perda de flores.
3) Safra e temporão
Aplicar nas folhas para proteger os frutos e diminuir a peca de bilros.
4) Entressafra
Aplicar no solo antes da poda. Depois da poda aplicar no solo, caule e folhas
para adubar, remineralização.
Plantio
Aplicar no solo, no composto ou na adubação de berço para fortalecer a muda.
Receita da biocalda
Material:
O 1 tanque de 500 litros
O 1 balde de 15 litros
O 1 quilo de arroz cozido (sem sal)
O 15 quilos de açúcar cristal ou rapadura
O 75 quilos de esterco verde (fresco)
O 10 quilos de pó de rocha
O 4 litros de microorganismos (veja abaixo como coletar na mata)
O 1 saco de plantas verdes e vigorosas que tenham no local
O Água sem cloro para encher o tanque
Modo de fazer:
Coleta de Microorganismos: No chão da mata, espalhar o arroz cozido sobre um plástico. Mantê-lo coberto com folhas de 7 a 10 dias. Após este tempo, coletar e por no balde. Misturar com 3 quilos de açúcar cristal ou rapadura.
Colocar água até metade do tanque. Acrescentar os microorganismos e demais ingredientes misturando tudo. Depois completar o tanque com água até ficar faltando cerca de 1 palmo (20 cm).
Mexer duas vezes ao dia por 10 minutos, durante 28 dias. A calda pode ser enriquecida durante ou após o preparo com macronutrientes (Nitrogênio, Fósforo, Potássio) ou micronutrientes (Boro, Zinco, Cobre, Cobalto, etc...) conforme a necessidade e recomendação técnica.
Modo de usar:
Na folha:
O Em plantas pequenas ou com folhas novas: 1 litro em 19 litros de água;
O Em plantas adultas ou com folhas maduras: 2 litros em 18 litros de água;
O Em mudas e hortaliças: meio litro em 19 litros e meio de água.
No solo:
O Usar 1 litro de biocalda para cada litro de água;
O Aplicar com bomba costal, manual ou motorizada, ou com regador.
Inseticida de fumo
O fumo de corda solta nicotina que funciona como um inseticida natural.
Ingredientes:
O 100 gramas de fumo de corda
O Meio litro de álcool
O Meio litro de água
O 100 gramas de sabão de coco
Modo de fazer:
Misturar o fumo cortado em pedacinhos no álcool. Acrescentar a água e deixar curtir por 15 dias.
Modo de usar:
Plantas com baixo ataque de praga: dissolver o sabão em 20 litros de água e juntar a mistura curtida. Pulverizar nas plantas atacadas.
Plantas com alto ataque de praga: dissolver o sabão em 10 litros de água e juntar a mistura curtida. Pulverizar nas plantas atacadas.
Manipueira
A manipueira é o líquido que sai da prensagem da mandioca. É utilizada no controle de pragas, como herbicida e como adubo.
Modo de usar:
O No controle de pragas do cacau, cupuaçu, ou outras árvores: misturar 1 litro de manipueira para cada litro de água;
O Para pragas de plantas pequenas como hortaliças: 1 litro de manipueira para cada 3 litros de água, a depender do tamanho da planta;
O No tratamento de mudas de bananeira: mergulhar as mudas na manipueira pura por 1 hora;
O No controle de formigas: aplicar cerca de 1 litro de manipueira pura no “olho” do formigueiro;
O Como herbicida: aplicar a manipueira pura e sem curtir por 3 dias seguidos molhando bastante as plantas;
O Na adubação de solo: usar 1 litro de manipueira para cada litro de água na linha do cultivo, utilizando regador ou pulverizador;
O Na adubação de folha: usar 1 litro de manipueira para cada 6 litros de água. Aplicar 1 vez por semana, durante 6 semanas.
Atenção:
O A manipueira pode ser guardada por até 3 dias. Após este período perde seu efeito contra as pragas;
O Se for usar a manipueira para controlar pragas, após o preparo é preciso acrescentar na mistura 1% de farinha de trigo, para ajudar a grudar na planta e melhorar o efeito. Para cada 10 litros de manipueira preparada colocar 100 gramas de farinha de trigo.
Tratamento de mudas de bananeira
Para evitar o ataque de brocas ou outras pragas na muda da bananeira, recomendamos:
O Escolher sempre mudas sadias e com bom desenvolvimento;
O Fazer a limpeza da muda, retirando o resto de terra, a casca e as raízes;
O Em um vasilhame, que pode ser um tanque, misturar 1 litro de água sanitária (encontrada no mercado) para cada litro de água;
O A muda deve ficar mergulhada nesta solução por cinco minutos.
Urina de vaca
A urina de vaca é utilizada na agricultura como fertilizante, fortificante (estimulante de crescimento) e também no controle de pragas, devido ao seu efeito repelente e ao aumento da resistência das plantas.
Testes realizados com cacaueiro mostram bons resultados no controle de pragas, principalmente aquelas que atacam os lançamentos de folhas, como o monalonio.
Modo de coleta:
Com um balde limpo, coletar a urina da vaca no momento da retirada do leite. Guardar em um recipiente com tampa e limpo (exemplo: vaso de refrigerante) e deixar curtir por três dias.
Modo de usar:
O Cacaueiro ou outras árvores: em uma bomba costal misturar 18 litros de água com 300ml de urina de vaca curtida. Pulverizar as plantas e repetir com 15 dias, se sentir necessidade;
O Hortaliças e plantas de pequeno porte: utilizar 50 ml de urina curtida em 10 litros de água. Pulverizar as plantas a cada 15 dias, dependendo da infestação. Aumentar a dose caso haja necessidade.
Compostagem com casca de cacau
A compostagem é um processo feito com a ajuda de microorganismos que transformam a matéria orgânica, como esterco, folhas, restos da poda e da colheita e restos de comida, em um material semelhante ao solo e que utilizamos como adubo.
Modo de fazer:
O Após a quebra do cacau, ou até 5 dias depois, picotar a casca com facão ou enxada. Quanto mais novas as cascas, melhor será a decomposição. Deixar as cascas com cerca de 3 cm;
O Formar um monte com as cascas picotadas e cobrir com folhas de bananeira, cacau ou outra encontrada na roça;
O Revolver o composto a cada 21 dias, por um período de aproximadamente 3 meses.
Atenção:
Não pode molhar ou colocar esterco no composto. Cobrir novamente sempre que revolver.
O A decomposição pode ser verificada enfiando um vergalhão de ferro até o meio do composto por 10 minutos. Caso o vergalhão esquente é sinal de que o material está se decompondo;
O Para conferir se a umidade está certa é só apertar o composto com as mãos, neste momento não pode escorrer líquido;
O Quando estiver pronto ficará com cor escura e cheiro de terra molhada;
O O enriquecimento do composto pronto poderá ser feito com:
O Pó de rocha: 1 saco para cada 100 quilos
O Cinza: 5 quilos para cada 100 quilos
O Biocalda: regar 5 litros em 100 quilos
Como usar na adubação do SAF:
O Berço: 1 quilo do composto por planta
O 1o ano: 2 quilos do composto por planta
O 2o ano: 3 quilos do composto por planta
O 3o ano: 4 quilos do composto por planta
D E S A F I O S
1) Ser um multiplicador na comunidade: o que aprendemos e praticamos em nossas áreas que deu bons resultados, precisamos passar para nossos vizinhos. Temos de ser exemplo das boas práticas de zelo com o solo e com a água.
2) Fortalecer a cooperativa com participação de todos: sabemos que para melhorar a comercialização dos nossos produtos e adquirir insumos com preços melhores, precisamos de uma cooperativa forte, o que depende da participação de todos nós. A cooperativa somos nós!
3) Fortalecer as associações: precisamos estar associados com a associação funcionando bem, para podermos buscar os programas do governo que nos ajudam a trazer melhorias para a nossa comunidade.
4) Ampliar as áreas de SAF: os SAF são bons porque nos ajudam a melhorar a renda e ainda protegem o meio ambiente. Daí a importância de ampliarmos nossas áreas de SAF, recuperando outras áreas abandonadas ou plantando mais onde tem poucos cultivos, deixando a roça mais produtiva e protegendo a natureza.
5) Influenciar as mudanças nas propriedades dos vizinhos pelo nosso exemplo: minha propriedade precisa estar organizada, com plantios diferentes no SAF, com nascentes protegidas, solo coberto, bem cuidada e produtiva. Se eu quero que meu vizinho melhore a propriedade dele, preciso mostrar como eu faço, melhorando primeiro a minha. Se todos fizerem a sua parte, teremos água boa, terra rica e uma renda melhor para todos.
Ficha Técnica
Redação
Anacleto Ferreira da Silva
André da Silva
Antonio Carlos dos Santos
Arival dos Santos Mamédio
Erisvaldo Barbosa dos Santos
Francisca Antônia de Araújo
Jaime de Souza
Jaime Lourenço Silva
Jairo de Souza
Lourivaldo Grima dos Santos
Marivaldo Santos
Martinha da Conceição
Milton da Aleluia dos Santos
Sandro de Jesus Pereira
Valdete Ferreira do Nascimento
Waldemar de Oliveira Bahia
Edição
Ana Paula de Matos
José Eduardo Santos Mamédio
Erika Cotrim
Luciana de Oliveira Gaião
Organização
Esta cartilha foi organizada pela Organização de Conservação da Terra (OCT), a partir de uma oficina realizada com os Agricultores Multiplicadores de Agricultura Sustentável (AMAS).
Volney Fernandes – Diretor Executivo
Ana Paula de Matos – Líder da Pequena Empresa Conservação Produtiva
José Eduardo Santos Mamédio – Coordenador de Projeto
Luciana de Oliveira Gaião – Coordenadora de Campo
Thiago Guedes Viana – Coordenador de Projeto
Silvana Campos da Silva – Coordenadora da Organização Socioprodutiva
Amauri Souza Cruz – Coordenador de ATER
Poliana Oliveira Santos – Prestação de Contas
Camila de Jesus da Silva – Técnica em Agropecuária
Joeli Neres dos Santos – Técnico em Agropecuária
Erika Cotrim – Comunicação
Hércules Saar – Consultor
Salvador Dal Pozzo Trevizan – Colaborador
Bruna Sobral – Planejamento Socioambiental