Sistemas Agroflorestais - Parte I
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Agrofloresta é um termo novo para práticas bastante antigas já utilizadas pelos indígenas. São sistemas produtivos que simulam ciclos da natureza, com foco na produtividade constante e eficiente, diversificação de produto, redução de custos, melhora ambiental e ausência de insumos externos. Mais importante de tudo, além da renda, é a leitura da natureza, entendendo os benefícios de cada planta, inseto ou ave.
Sistemas agroflorestais ou SAFs recuperam ambientes com sistemas produtivos baseados na sucessão ecológica, semelhantes a ecossistemas naturais, onde árvores exóticas ou nativas são consorciadas com culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras, arbustivas, de acordo com um planejamento do espaço e tempo dos cultivos escolhidos, com alta diversidade de espécies e interações entre elas. São realizados plantios de sementes e/ou de mudas. Os recursos e o retorno da produção são gerados constantemente e em diversas "alturas"/estratos. Otimizam o uso da terra, a preservação ambiental e a produção de alimentos, conservando o solo.
Podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas:
1) São permitidos em Área de Reserva Legal ou Reserva Legal (ARL ou RL), APPs de pequenas propriedades ou posse rural familiar e em Área de Uso Restrito (AUR) com declividade entre 25° e 45° e áreas consolidadas;
2) O plantio de espécies exóticas com espécies nativas de ocorrência regional não pode ultrapassar 50% da área total a ser recuperada.
PRINCÍPIOS BÁSICOS
- Proteção e cobertura do solo;
- Sem utilizar agrotóxicos;
- Ciclagem de nutrientes e a produção de matéria orgânica para melhoria do solo e nutrição das espécies comerciais;
- Sucessão ecológica ao longo do tempo;
- Manejo da estratificação imitando a dinâmica de uma floresta natural, através da realização periódica de podas e a utilização de espécies de curto prazo (hortaliças, culturas anuais), médio prazo (banana, abacaxi, etc) e de longo prazo (café, palmitos, frutíferas, árvores madeireiras).
- Alta diversidade em diferentes tempos, o que incrementa a renda do agricultor e pode ser associado a criação de abelhas ou fungos nos SAFs.
POR QUE ÁRVORES?
Um dos componentes mais importantes da natureza. Protegem a água, o solo e os animais, fornecem: mourão de cerca, madeira, cabo de ferramentas, frutos, remédio, alimento para os animais, sombra para o gado e para as pessoas, etc. Poderão fornecer sementes para perpetuação das espécies.
Quanto mais a terra estiver coberta com florestas, mais a água da chuva terá infltrará no solo, alimentando o lençol freático. As nascentes, córregos e rios permanecerão com água limpa e abundante o ano todo e o solo é protegido contra a erosão.
A legislação brasileira exige a recuperação e manutenção das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais (RLs). As APPs seriam o entorno das nascentes, lagos, represas, córregos e rios, topos de morro e em encostas muito inclinadas. A RL é uma área protegida por lei, no interior de uma propriedade ou posse rural, cuja vegetação nativa não pode ser derrubada totalmente, mas pode ser usada para fins produtivos, como para produção de frutas, criação de abelhas, artesanato, turismo e manejo seletivo de madeira, porém, não pode ser utilizada para agricultura ou pecuária que impeçam a regeneração da floresta.
O QUE QUER DIZER PRODUÇÃO DIVERSIFICADA EM DIFERENTES TEMPOS?
2 anos de SAF: As primeiras receitas são das espécies anuais (feijão, arroz, milho), hortaliças, adubos verdes (feijão-de-porco, guandu, crotalária,) e espécies semi-perenes (mandioca, abacaxi, banana, mamão), podendo ser comercializadas nos primeiros 3 anos. A produtividade das culturas anuais e semi-perenes diminui à medida que ocorre o aumento do sombreamento e competição com as espécies lenhosas.
10 anos de SAF: O sistema atinge boa maturidade, as espécies frutíferas estão na fase produtiva a partir do quarto ano e atingiram sua estabilidade produtiva aos 10 anos. As espécies madeiráveis podem ser colhidas entre os 6 e 10 anos para fornecer energia (Eucalipto, por exemplo). Esta fase apresenta uma redução na demanda de mão-de-obra devido a menor intensidade nas atividades de manutenção das espécies frutíferas e madeiráveis.
Monitoramento
Realizar análises de solos periódicas, anuais nos primeiros 3 anos e a cada 2 anos nos anos seguintes, monitorando as características físicas e químicas;
Observar a dinâmica dos SAFs, quanto ao crescimento, sanidade, períodos de floração e frutificação das espécies frutíferas;
Realizar as atividades de manejo como podas de formação de copa e fitossanitárias, desbastes e limpezas em geral;
Observar e, caso necessário, combater pragas e doenças. As formigas são um dos principais problemas em áreas degradadas na fase de estabelecimento dos SAFs;
Adequar a quantidade da mão-de-obra nos períodos com maior demanda, como geralmente ocorrem nas atividades de preparo de área, plantio e colheita, conforme planejamento;
Manter um arquivo organizado em planilha eletrônica (como o Aplicativo Caderno de campo da ManejeBem!), com todas as atividades de custos de mão-de-obra e de insumos, além das receitas geradas pela venda dos produtos dos SAFs, para obter os coeficientes técnicos e indicadores financeiros do sistema. Desta forma o produtor rural poderá analisar a viabilidade financeira em diferentes fases do sistema.
PLANEJAMENTO E IMPLANTAÇÃO
Desenhar mostrando a disposição das mudas e sementes no terrreno, pois no mesmo dia será plantado todas as espécies que comporão o SAF (as que nascerem primeiro vão criando aquelas de crescimento mais lento). Deve-se planejar o espaçamento desejado entre as árvores.
MUTIRÃO: Atividade de um ou dois dias onde o agricultor convida seus vizinhos e amigos para um dia de trabalho, fornecendo a alimentação. A cada mês ou período um agricultor diferente é agraciado com a visita dos companheiros. Essa é uma forma de apoio mútuo e extremamente eficiente. Como os SAFs são locais muito agradáveis de serem visitados, isso não será problema!
TÉCNICAS E OBSERVAÇÕES: Atenção para ciclos, etapas e combinações, que devem ser consideradas ao se projetar uma agrofloresta ou criar agroecossistemas.
a) Observar a capacidade e limitação do seu mercado;
b) Definição de metas flexíveis;
c) Agilidade para tomadas de decisões, com suas metas em mente;
d) Seja criativo com o SAF e seu empreendimento e teste suas idéias constantemente. Não tente receitas e métodos prontos, estude, investigue, teste e crie novos modelos para sua realidade. Depois de testada, expanda e escalone a produção. O diagnóstico é o ponto de partida, os objetivos são onde se quer chegar. Isso será o seu maior insumo, conhecimento de processos;
e) Organização e sistematização, demonstrados em números. Isso mostrará a viabilidade técnica e econômica do SAF;
f) Profissionalismo: não somente a produção, como a área financeira, administrativa, de comercialização e de recursos humanos precisam de atenção;
g) Agregação de valor: estudar o mercado e planejar o que, como e quando produzir e vender. O beneficiamento é uma técnica de sucesso, pois pode atender nichos de mercado. Pesquise o mercado, planeje a melhor forma de atendê-lo e promova seus produtos, explorando canais de comercialização alternativos. Ao invés de se produzir grande variedade e volume para fins comerciais, foque em produtos que possuem mercados consolidados e, em alguns casos, crie novos nichos de mercado até então impraticáveis em determinada região.
TIPOS OU ARRANJOS DE SAFS
A quantidade e diversidade de biomassa fazem a reciclagem e renovação, através de podas seletivas e introdução de espécies. Existem diferentes arranjos, que podem ser evoluídos/mudados de um para o outro conforme a necessidade ou manejo (como o de um silviagrícola para silvipastoril; ou de roça temporária para uma capoeira melhorada):
- Sistema agrossilviagrícola – Cultivos de plantas anuais e árvores.
- Sistema agrossilvipastoril – Presença de árvores, com cultivos de plantas e também a presença de animais.
- Sistema silvipastoril – Presença de pastagens e animais consorciados com as árvores. Providencia bem estar animal, enriquece o solo, melhora o valor nutritivo do pasto e suplementa naturalmente a alimentação animal.
- Quintais agroflorestas: Associação de espécies florestais, agrícolas, medicinais, ornamentais e inclusive animais (porco,galinha, cachorro, até paca, capivara) ao redor da residência, com uma série de funções: alimento de autoconsumo e comercialização. A variedade de espécies permite produção durante o ano inteiro.
A INSPIRAÇÃO VÊM DA FLORESTA: SUCESSÃO NATURAL E ESTRATIFICAÇÃO
A sucessão permite que se produza diferentes tipos de plantas em uma única área de acordo com seu ciclo de vida (tempo). A estratificação é pensar na altura das diferentes espécies, o que otimiza a captação de luz (fotossíntese) considerando as diferentes necessidades por luz e a arquitetura de cada planta.
A agrofloresta implantada tenta imitar o que acontece em ambientes de florestas naturais. Observe a floresta (ou mata nativa antiga mais conservada)!
Dentro da mata ocorre um equilíbrio e não ocorrem surtos de doenças e ataque de insetos nocivos, isso chama-se de “equilíbrio dinâmico”.
A própria floresta se aduba: as árvores se tornam velhas e morrem, ou caem devido a ventos, raios etc., e já existem outras que tomarão seu lugar. Isto é chamado de sucessão natural.
Implantação através de consórcios, com grande diversidade de plantas com funções diferenciadas dentro do sistema. Como funciona?
1º passo: observar e analisar o solo e em que condições se encontra, priorizando seu manejo adequado.
2º passo: fazer um planejamento e calendário agrícola de todas as culturas anuais e perenes que deseja produzir conforme a época do ano (grãos, verduras, legumes, frutíferas, etc.)
3° passo: reconhecer a função de cada elemento da paisagem natural, verificando qual o melhor desenho para a implantação da área em função do terreno.
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Vantagens do sistema agroflorestal:
• Diminui o risco de perdas de cultivos solitários (monoculturas).
• As plantas servem de quebra-vento umas das outras.
• Diminuição de ataques de doenças e insetos prejudiciais, devido a uma maior diversidade de plantas.
• Aumento na matéria orgânica do solo.
• Maior manutenção da água no sistema.
• Ocorre a produção o ano todo, mantendo uma renda mais estável
Como isso ocorre:
1) Galhos, ramos e folhas são cortados e manejados no solo.
2) São atacados por fungos e bactérias, ácaros, minhocas, etc.
3) Transformam em matéria orgânica.
4) Que vira adubo no solo.
5) Plantas absorvem o adubo do solo.
6) Plantas formam folhas, galhos, frutos, sementes, etc. iniciando um novo ciclo.
CONSÓRCIOS: As plantas a serem consorciadas são escolhidas pelo tamanho e porte tolerância à sombra exigências de um solo mais fértil ou menos fértil e de umidade, afinidade no tempo da sucessão
Por exemplo, o feijão trepador convive muito bem com o milho, como o cultivo "3 Irmãs" (primeiro milho, depois feijão e finaliza com abóbora no mesmo local) . A batata-doce fica muito bem entre as bananeiras que se relacionam muito bem com o café. Podemos ter como fonte o saber popular, mas sem deixar de lado a experimentação.
TRATOS CULTURAIS E MANEJO: O sistema agroflorestal depende do manejo adequado. Que consiste em reconhecer as áreas para os plantios, onde será possível introduzir novas espécies a partir da sucessão natural; remover as plantas doentes; retirar galhos envelhecidos como forma de limpeza; podar árvores que estejam fazendo muita sombra para outras espécies, com o objetivo de renová-las, indica-se a poda de 30% da copa das árvores em área de cultivo.
• Capina seletiva: deve ser feita antes do tempo de plantio e/ou na colheita. Com ela são cortadas as plantas invasoras indesejáveis, abrindo espaço para o plantio e deixar o solo sempre coberto.
• Poda de limpeza: após a frutificação, com a retirada dos galhos envelhecidos ou quebrados. Usada para aumentar a entrada de luz e ar nas áreas de cultivo, através do raleamento.
• Poda drástica: esta poda retira mais de um terço da copa da árvore, para que se recupere de uma doença ou que rejuvenesça, revigorando assim o sistema produtivo.
• Sulcos e/ou contenções: valas abertas no solo, que são preenchidas com palha/galhos/folhas secas, com a função de reter a água no solo, evitando a erosão.
• Colheita: cada produto tem suas características e o seu ciclo. Deve constar no planejamento a colheita do produto. Deve ser pensado como retirar o produto do SAF antes mesmo de seu plantio, para a garantia de uma colheita apropriada, com o menor esforço possível e a conservação e armazenamento adequado da produção que será colhida.
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