Sistema de Cultivo de Mandioca | Parte 1
Mandioca, macaxeira, aipim ou castelinha. Considerada a mais brasileira das culturas, por ser cultivada em todo o território nacional, devido à sua rusticidade, à sua capacidade de produzir elevadas quantidades de amido em condições onde outras espécies sequer sobreviveriam, à sua versatilidade de usos, flexibilidade de plantio e à sua importância sociocultural representativa das populações. É explorada, basicamente, por pequenos produtores, em áreas marginais de agricultura.
Tendo suas raízes usadas como alimento básico por largas faixas da população e consumidas como farinha, amido ou cozido (in natura). Por sua capacidade produtiva, pela qualidade do seu amido e da sua parte aérea, alcança novos mercados, tanto na indústria (alimentícia e química) quanto na alimentação animal (raízes e parte aérea).
Além disso, serve como base para a alimentação humana (in natura e na fabricação de farinhas e polvilhos, entre outros) e para a alimentação animal, aproveitam-se tanto as raízes quanto a parte aérea.
1. Escolha da Área
Locais com precipitação de 1000 - 1500 mm, bem distribuídos;
Insolação de 12 horas/dia;
Temperatura média de 25ºC;
Solos profundos, não compactados, textura arenosa ou média e com boa drenagem;
Terrenos planos ou levemente inclinados (10% de declividade), evitar áreas de baixadas com pouca drenagem/sujeitos a alagamento;
Aproveitar restos da cultura anterior, onde já foram realizadas correções e adubações.
2. Preparo do Solo
Atividades (aração/gradagem/abertura de sulcos e covas) devem seguir curvas de nível e remover o mínimo possível de solo;
Enleirar os restos de cultura em nível;
Realizar análise de solo para calagem e adubação adequadas.
3. Tipos de Cultivo
3.1 Cultivo em faixas:
São plantadas faixas alternadas com cultivos diferentes, em que a cultura a ser alternada com a mandioca protege mais o solo – por exemplo, milho, feijão, leguminosas para adubos verdes, entre outras;
3.2 Consorciação, policultivo ou cultivo múltiplo:
Sistemas de plantio em que, em uma área, usam-se diferentes culturas em determinado espaço de tempo. Tem-se a cultura principal, com um ciclo mais longo, e a consorciada (uma ou mais), de ciclo mais curto.
Pode ser consorciada com uma série de outras culturas (arroz, milho, feijão, amendoim, batata-doce, hortaliças em geral, leguminosas para adubação verde, entre outras), tanto em sistemas de plantio de fileiras simples, devendo-se aumentar o espaçamento entre as linhas, quanto em fileiras duplas.
Também a mandioca pode ser usada como cultura consorte em uma série de sistemas com culturas perenes ou florestais, como fruteiras, fruteiras nativas, eucalipto, etc., e também em sistemas agrosilvipastoris.
3.3 Plantio em leirões ou camalhões:
Facilitando a colheita da mandioca e controla a aeração do solo em áreas com baixa drenagem, reduzindo a ocorrência de podridão radicular. Os camalhões poderão ser feitos com passagens de arados em sentidos alternados, com o sulcador grande, também denominado de taipadeira, ou mesmo com enxada manual;
3.4 Cordões de contorno:
consiste em plantar, dentro da mesma área, faixas adensadas de culturas mais vegetativas, seguindo as curvas de nível, ou seja, cortando as águas. Pode-se usar cana, capins, milho, entre outras.
4. Variedades
BRS Poti e BRS Mari, Kiriris e Aramari: cultivares que têm resistência à podridão-mole-da-raiz e boa produtividade;
Aipim Manteiga: alto potencial produtivo, moderada resistência a cercosporiose e à podridão radicular; tolerância à mosca branca e à mosca das galhas;
Brasil e Jaú: variedades que se destacaram para mandioca de mesa;
Cacau: variedade com baixo teor de “veneno” (ácido cianídrico) e alta aceitabilidade do consumidor.
Neilton e Imbé: variedades que se destacam pela produtividade total e comercial.
5. Seleção de Manivas
5.1 Seleção
Primeiramente faz a definição do mercado a ser atendido: mesa/in natura ou indústria (farinha, fécula e glicose, etc). Como critérios de seleção, recomendam-se:
Eliminar as plantas doentes e atípicas;
Elevada produtividade de raízes;
Elevadas resistências as principais pragas e doenças da região;
Arquitetura favorável ao plantio mecanizado, consorciação, tratos culturais, colheita e aproveitamento de manivas-sementes (sem ramificação ou com primeira ramificação alta);
Raízes pedúnculo (ligação da raiz à maniva-semente) curto, facilita a colheita e separação das raízes;
Raízes lisas ou com poucas cintas;
Raízes bem distribuídas, uniformes e com tamanho comercial;
Rama com pequena distância entre os nós;
Lenta deterioração pós-colheita;
Raízes com tendência horizontal;
Elevada retenção foliar;
Curto período entre plantio e colheita;
Rápida brotação das manivas-sementes e crescimento inicial;
Facilidade na soltura da entrecasca e a casca da raiz.
5.2 Para a retirada de manivas-sementes, têm-se os passos:
Inspecionar constantemente o mandiocal onde serão coletadas as ramas, monitorando pragas e doenças;
Evitar retirada de ramas doentes ou com pragas;
Escolher mandiocal com 10 a 12 meses de idade, ou seja, plantas maduras (a rama está madura quando diâmetro da medula for menor ou igual a metade de seu diâmetro);
Tirar a rama da parte intermediária da planta, cortando 10cm do solo e eliminando a parte superior com folhas. Fazer prova do canivete: um pequeno corte, se sair seiva/leite rápido, a rama está apta ao plantio;
Escolher ramas com 2 a 3 cm de diâmetro, 20 cm de comprimento, contendo 5 a 8 gemas/olhos;
Coletar até 8 a 10 dias antes do plantio e evitar coletar ramas de plantas secas;
Cortar a maniva-mãe, eliminar excesso de galhos e preparar os feixes com 50 a 60 ramas, amarradas e colocadas num mesmo sentido. Para armazenar por mais de 30 a 40 dias, colocar no mesmo sentido, local fresco e sombreado, enterrar as bases 5 cm em solo afofado e molhado durante o período de armazenamento, depois cercar toda lateral com capim seco para proteção. Em sentido horizontal, retirar excesso de galhos e cobrir com capim seco;
Não jogar os feixes de ramas no chão para evitar ferimentos ou danos as gemas de brotação;
Colocar os feixes em local fresco, sombreado, protegido de ventos quentes e secos até o preparo da maniva-semente.
5.3 Quantidade de ramas:
Tirar a quantidade de ramas de acordo com o tamanho da área plantada, calculando a quantidade de manivas-semente por hectare:
Considerando o plantio no espaçamento de 1 m x 1 m, são necessárias 10.000 manivas-semente de 20 cm de tamanho. Serão necessárias 2000 ramas com tamanho médio de 1 m (cada rama de 1 m produz 5 manivas-sementes de 20 cm). Sugere-se adicionar 20% de reserva no caso de possíveis perdas durante a etapa de preparo e seleção da maniva-semente, resultando em 2,4 mil ramas de 1 m ou 48 feixes por hectare.
Recomenda-se utilizar um campo de produção de manivas-semente: reservar a melhor área, 20% do mandiocal ou área exclusiva, como campo de multiplicação.
6. Plantio
Manual ou mecanizado. Recomenda-se para o primeiro plantio, arar e gradear a área para descompactar e destorroar a terra. Nos plantios subsequentes recomenda-se o sistema de plantio direto (SPD).
Plante no alinhamento em espaçamento de 1,2 metros entre linhas e 1 metro entre plantas para fileiras simples. Em fileiras duplas plante 2 metros entre fileiras duplas, 60 centímetros entre fileiras simples e 60 centímetros entre plantas;
Covas, sulcos, camalhões ou covas invertidas (matumbos). Camalhões são terraços feitos manualmente/mecanizados, com base de 40 centímetros e altura de 30 centímetros; matumbos são montículos isolados de terra, feitos manualmente, com diâmetro de 40 centímetros e altura de 30 centímetros;
Manivas-sementes na horizontal (deitadas), vertical ou inclinadas;
Colocar gemas/olhos voltados na mesma direção. Plantio na vertical/inclinada para áreas mal drenadas, em camalhões ou matumbos.
Sistema de Plantio Direto (SPD): sistema que envolve o não revolvimento do solo. A implantação da cultura é realizada diretamente sobre uma palhada dessecada, palhada essa residual de capina/roçagem ou plantio intencional para formação de palhada para ser utilizada como restos orgânicos.
7. Época de Plantio
Recomenda-se no período das chuvas. Geralmente entre outubro até março, contudo esta muda de região para região. A falta de umidade causa perda na brotação e redução no enraizamento, e o excesso prejudica brotação e favorece podridão.
8. Calagem
Análise do solo, considerando os teores de cálcio, magnésio e alumínio trocáveis: fundamental para as recomendações de calagem e adubação;
Calcário em doses moderadas. 1 tonelada no máximo de cálcio e magnésio por hectare. Com objetivo de baixar a saturação por alumínio para 30%.
O calcário deve ser dividido em duas partes iguais. A 1ª parte incorporada a 20 cm de profundidade e a 2ª parte junto com a gradagem.
Esperar pelo menos 20 dias após aplicação do calcário para o plantio.
9. Adubação
Uma etapa essencial é a Análise do solo. Após realizada a análise, o técnico poderá indicar a melhor forma de adubar, garantindo melhores resultados.
9.1 Convencional
Recomenda-se 60 Kg de fosfato monoamônico (MAP) ou 70 quilos de superfosfato simples (SFS) por hectare;
15 Kg de uréia por hectare durante o plantio, ao lado da maniva-semente.
Após 15 dias da brotação, 35 kg de uréia por hectare, em cobertura;
40 Kg de cloreto de potássio por hectare durante o plantio, na cova ou sulco.
2 Kg de zinco por hectare.
9.2 Adubação Orgânica
Pode-se optar pela adubação orgânica, utilizando esterco de gado ou de aves, bem curtidos. Aplicadas na cova, sulco ou a lanço, no plantio ou com antecedência.
Se utilizar esterco de gado aplique a quantidade de 1,5 tonelada por hectare.
Se utilizar o esterco de aves, 2,2 toneladas por hectare.
Outras técnicas podem ser utilizadas, como o uso de micro-organismos eficientes e preparos biodinâmicos.
9.3 Adubação Verde
Pode-se realizar com mucuna preta, crotalárias, feijão-de-porco, mucuna branca, guandu, feijão-bravo-do-ceará, etc.
A adubação é boa para o solo de duas formas principais: Primeira, pela fixação de nitrogênio pelas raízes; segunda, ao se realizar a poda dessas plantas chamadas de “adubadeiras” e em seguida, fazer a cobertura do solo com elas.
Podem ser usadas em sistemas consorciados com a mandioca em fileiras simples ou dupla, ou em rotação.
Veja a seguir um vídeo explicativo sobre a adubação da mandioca.
10. Manejo
Durante os primeiros 150 dias (5 meses) após o plantio: Manter roçado isento de mato, com capinas/roçagem manual, podendo chegar de 4 a 6 capinas até a colheita;
Capina em linhas alternadas: capinar uma linha e saltar a outra, deixando-a sem capinar, e assim até o fim da área; depois de uma ou duas semanas, retornar e capinar as linhas que ficaram sem capinar;
Capina nas linhas e roçagem nas entrelinhas: controlar o mato nas linhas de plantio e nas entrelinhas fazer somente uma roçagem;
Amontoa: chegar terra para junto das plantas, com auxílio da enxada;
“Mulch”/cobertura morta: cobrir o solo em toda a área do mandiocal, linhas e entrelinhas de plantio, com resíduos vegetais ou vegetação morta (capins secos). Caso não haja disponibilidade de vegetação seca para toda a área, a cobertura morta poderá ser feita em linhas alternadas. Quando cinzas reaproveitadas de outros espaços estão disponíveis, elas devem ser utilizadas abaixo da cobertura morta;
Roça Sem Fogo (ao contrário da roça de tocos): extrai retorno econômico dos recursos naturais existentes na vegetação de capoeira, como a lenha, carvão, caibros para construção civil, sementes, óleos, moirões para cercas, plantas ornamentais, artefatos para artesanatos e outros, deixando-se na área as espécies de importância econômica, como fruteiras, essências florestais, espécies melíferas, medicinais, oleíferas e outras, num espaçamento mínimo de 20 m uma das outras, para evitar o sombreamento da mandioca;
As capoeiras recomendadas para trabalhar variam entre 5 e 10 anos de idade, em solos bem drenados, sem ocorrência de pedras e com declividade de no máximo 10%.
10. 1 Etapas para o preparo da área:
O preparo das áreas envolve as seguintes etapas de forma manual:
Demarcação da área – abertura de picadas delimitando área de 50 m x 50 m, com o uso de facões;
Broca – a vegetação de sub-bosque é tombada em corte rente ao solo usando-se facões. Essa vegetação junto da copa dos espécimes lenhosos cortadas formam a palhada de matéria orgânica que permanece na área cobrindo o solo.
Inventário – as espécies de interesse econômico, como plantas medicinais, fruteira e essências florestais, são inventariadas e mantidas na área em distâncias não inferior a 10 m entre elas;
Corte da vegetação lenhosa – os espécimes lenhosos com valor energético são tombados em corte rente ao solo, utilizando motosserra e machado. Aproveita-se as varas/ caibros acima de 3,5 m de tamanho para venda às empresas de construção civil e o fuste das árvores é cortado em toras medindo 1 m de comprimento, para permitir a formação de medas de 1 m³ de lenha para comercialização ou fabricação de carvão. Corta-se árvore por árvore para facilitar o trânsito dos operadores e a retirada do material lenhoso;
Picotamento da galhada – com facão e foice para fracionar e rebaixar a vegetação, cobrir o solo e facilitar o trânsito de trabalhadores na área bem como as operações de piqueteamento, abertura de covas e plantio da mandioca.
Aceiro – limpeza e retirada de toda a biomassa para dentro da área a ser plantada, proveniente do rebaixamento da galhada, numa largura de até 5 m, em volta da área preparada para plantio, evitando incêndios para dentro do roçado de cultivo;
Abertura de covas e plantio da mandioca – realizado no início das chuvas, imediatamente após o preparo de área, no espaçamento de 1 m x 1 m;
Tratos culturais – aos 30 dias após a emergência da mandioca é realizado um desbaste das brotações dos tocos com uso de facões. Posteriormente, efetuar duas capinas das plantas invasoras conforme a necessidade nos primeiros 150 dias de plantio da cultura da mandioca.
Fontes:
https://www.bibliotecaagptea.org.br/agricultura/culturas_anuais/livros/CULTURA%20DA%20MANDIOCA%20APOSTILA.pdf
https://www.embrapa.br/documents/1354377/1743416/Mandioca+no+Cerrado+orienta%C3%A7%C3%B5es+t%C3%A9cnicas.pdf/2df4d240-b1b5-4107-84ed-12f85305ec67?version=1.0
https://sistemas.ifgoiano.edu.br/sgcursos/uploads/anexos_9/2018-03-06-10-32-47Rickson%20C%C3%A2ndido%20de%20Souza.pdf
https://www.douradosagora.com.br/noticias/tecnologia/sistema-de-plantio-direto-na-lavoura-de-mandioca-e-mais-sustentavel-e-rentavel
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMF-2010/26716/1/comunicado-133.pdf
https://www.embrapa.br/documents/1354377/1743416/Mandioca+no+Cerrado+orienta%C3%A7%C3%B5es+t%C3%A9cnicas.pdf/2df4d240-b1b5-4107-84ed-12f85305ec67?version=1.0
https://www.ufrb.edu.br/pgea/images/Teses/FRANCISCO_DE_ASSIS_GOMES_JUNIOR.pdf
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/173763/1/folder-Variedades-Mandioca-Ainfo.pdf