Sistema produtivo do trigo
O trigo é uma é uma gramínea (família Poaceae), herbácea.
Cultura cultivada em todo o mundo, e para o agronegócio brasileiro também é uma cultura muito importante.
Seu centro de origem e domesticação é o chamado “Centro médio-oriental”, no Brasil provavelmente foi introduzido por Martim Afonso de Souza em 1534.
O primeiro estado brasileiro a produzir esta cultura agrícola foi São Paulo, e atualmente são em dois estados do sul que se concentram as maiores áreas e volumes de produção, veja na figura abaixo.
No sul do Brasil é feito o cultivo de 85,6% da produção nacional de trigo, mas são pelo menos cinco estados deste país que fazem o cultivo. O cultivo é feito no regime sequeiro ou irrigado, o cultivo irrigado é mais representativo no centro-oeste e sudeste, mas predomina o sistema de sequeiro em grande parte do país.
Apesar deste ano se ter a expectativa de aumento de 6,7% na área plantada para produção de trigo brasileiro com estimada uma produção de 4,9 milhões de toneladas, ele ainda não supre a demanda nacional.
A produção brasileira representa 52% da nossa demanda total, o restante é importado, sendo que 35% vem da argentina, portanto é dela que importamos a maior parte deste cereal.
Um levantamento realizado pelo portal Governo do Brasil mostra que a agricultura familiar produz 21% do trigo brasileiro.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o trigo é o segundo alimento mais consumido no mundo.
Ele pode ser consumido na alimentação humana em forma de farinha, macarrão, biscoitos, bolos, pães, cervejas etc. Já na alimentação animal ele é utilizado na composição de ração, na forma de forragem ou de grão.
Também pode ser utilizado na produção de produtos não alimentícios, tais como colas, misturas para impressão, álcool, antibióticos, vitaminas, fármacos, cosméticos, misturas adesivas ou de laminação para papéis ou madeiras, agentes surfactantes, embalagens solúveis ou comestíveis, etc
Para comercialização o trigo é classificado em tipos, pode ser classificado conforme a espécie, a época de plantio, a dureza do grão ou pela qualidade do grão e da farinha. Saiba mais sobre essas classificações:
Época de plantio : há cultivares de inverno, que precisam de maior quantidade de horas de frio para se desenvolverem e há as de primavera, essas precisam de menor quantidade de horas de frio.
Dureza do grão : são classificados como grão duros ou moles. Moles aqueles com grão de amido que quebram durante a moagem e duros os que não quebram.
Qualidade do grão e da farinha : os parâmetros avaliados para julgamento da qualidade são a cor, dureza, glúten, absorção, número de queda e peso de hectolitro, a regulamentação é feita pela instrução normativa nº 38 de 2010.
Espécies de trigo : com valor comercial são basicamente três espécies cultivadas, que são elas :
Trigo “Durum” ( Triticum turgidum L.) , Trigo clube ( Triticum compactum ) e Trigo comum (Triticum aestivum L. ) que é a espécie mais cultivada no Brasil e mundo. Uma apresenta alguma característica diferente da outra, por exemplo uma apresenta mais glúten...
Possivelmente essas espécies originaram-se do Trigo Einkorn (Triticum monococcum L.), que é uma espécie de trigo ancestral.
Destas espécies que surgiram as cultivares que são utilizadas no plantio.
A escolha da cultivar adequada para a região do plantio é muito importante, cada local possui solo e clima diferentes e com isso as pragas, doenças e nematoides são diferentes, então escolha aquelas que apresentam tolerância ou resistência aos problemas que ocorrem na sua região e que também apresentem alta produtividade.
Veja algumas opções de cultivares :
BRS 264 Embrapa 22; TBIO Toruk; TBIO PIONEIRO; TBIO ALCAPA; BRS Belajoia; BRS TARUMÃ;
Confira outras opções acessando o Zoneamento agrícola de Risco Climático (Zarc) que apresenta uma lista de cultivares indicadas para cada região, clique aqui e escolha o estado, o tipo de cultivo e a cultura do trigo para obter esta informação.
O trigo pode ser cultivado tanto em regiões de clima tropical quanto subtropical, mas alguns fatores climáticos apresentam risco para a cultura e o Zarc os levou em consideração para as recomendações. Nas regiões subtropicais o risco está no déficit hídrico no florescimento, ocorrência de chuva em excesso após a maturação fisiológica do grão e no período de colheita e à ocorrência de geadas .
Já nas regiões tropicais os ricos estão mais relacionados com a temperatura e umidade do ar elevadas no período de florescimento e enchimento de grãos
O ideal é a umidade do ar de 70%, a temperatura do solo no período de emergência na faixa de 15ºC e 20ºC, temperaturas acima de 26ºC são ruins para o estabelecimento da cultura.
Época de plantio
O clima e solo de cada região também vão definir a época do plantio, de forma geral a figura abaixo apresenta as épocas para o plantio e colheita.
Para ser mais assertivo, sobre a época do plantio, avalie também o ZARC recomendado para seu município .
Época para plantio do trigo (em verde) definido para cada região brasileira e época para colheita do trigo (em laranja).
(Fonte: Conab)
Preparo do solo
Deve ser feito com o mínimo possível de revolvimento do solo, no sistema de plantio direto que se fundamenta na utilização de técnicas conservacionistas do solo, tais como a rotação de cultura, a manutenção da cobertura do solo, mobilização de solo restrita à linha de semeadura; minimização do intervalo de tempo entre a colheita e a semeadura subsequente; e implantação de práticas mecânicas para evitar a erosão
O trigo é uma cultura muito utilizada na rotação de cultura com a soja, sendo ela uma leguminosa e o trigo uma gramínea, compondo uma boa combinação. A técnica da rotação de cultura tem como premissa não se fazer o cultivo da mesma espécie e área dentro de pelo menos dois anos, portanto veja na tabela abaixo mais opções de plantas para rotação com trigo.
(Fonte: Fancelli, 2008)
Se a lavoura possui declividade acima de 2 % devem ser feitas obras mecânicas para evitar a erosão. Como opções destas obras estão os terraços, semeadura em contorno e por culturas em faixas e cordões vegetados.
Diminuir o tempo entre a colheita e a próxima semeadura também é uma opção para minimizar os efeitos negativos sobre o solo.
A manutenção da cobertura do solo com palhada além de conservá-lo evita o surgimento de plantas invasoras, que se ocorrerem nos 45-50 dias após a emergência do trigo podem afetar o seu desenvolvimento e consequentemente reduzir a produtividade.
Adubação, calagem e inoculação de sementes
É necessário fazer análise de solo para determinar se a área do cultivo precisa ou não que se faça a correção da acidez ou a adubação.
Para o sistema de plantio direto recomenda-se fazer a coleta do solo nas profundidades de 0-10 cm e 10-20 cm, e devem ser repetidas a cada três anos no mínimo. Para o plantio convencional, geralmente a coleta é feita na profundidade de 0-20 cm.
Para saber mais detalhes sobre como fazer a análise de solo acesse nosso manual que preparamos para lhe auxiliar nesta atividade tão importante.
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR
Com o resultado da análise de solo em mãos saberemos qual é o nível de cada elemento no solo analisado e a partir disso interpretamos se há necessidade da correção e adubação e qual será a quantidade.
A quantidade é variável conforme a região, para cada estado brasileiro há uma recomendação diferente, portanto, é necessário acessar o manual de adubação e calagem para verificar especificamente para o estado que lhe interessa, informações do manual também são disponibilizadas pela Embrapa, clique aqui para acessar.
Abaixo veja exemplo de indicações da adubação com nitrogênio (N) para alguns estados.
O nitrogênio é o elemento mais demandado pela cultura do trigo e para o estado do Paraná-PR a indicação da quantidade (kg/ha) para adubação é feita com base na cultura anterior.
Fonte : Embrapa
Já para os estados de Santa Catarina-SC e do Rio Grande do Sul-RS eles se baseiam no nível de matéria orgânica que o resultado da análise apontou, no rendimento esperado do grão e na cultura que antecedeu o cultivo do trigo. Veja na tabela abaixo as indicações de adubação nitrogênada (kg/ha)
Fonte : Embrapa
As quantidades de nitrogênio, apresentadas na tabela, devem ser aplicadas em cobertura entre as fases de perfilhamento e alongamento do colmo da cultura. Durante a semeadura aplica-se entre 15 kg/ha a 20 kg/ha de N.
Outros elementos como o fósforo, o potássio e alguns micronutrientes também são aplicados na semeadura.
Verifique na figura abaixo a escala fenológica e o manejo nutricional do trigo para se basear qual é o momento para ser feita a aplicação em cobertura.
Legenda: * o potássio somente necessita ser aplicado em cobertura quando a dose total exceder 100 kg/ha de k2O
(Fonte: Modificada de Pires et al. (2011) apud Bona et al, 2016 )
Como no exemplo de recomendação da adubação nitrogenada pudemos verificar que há diferenças conforme o estado de interesse.
Para verificar as indicações para outros estados, calagem e outros macros e micronutrientes clique aqui e acesse um material da Embrapa com estas informações.
Inoculação das sementes de trigo
Para promover o crescimento do trigo indica-se o uso de inoculante em suas sementes, no mercado há disponível alguns que têm como ingrediente ativo a bactéria Azospirillum brasilense.
São produtos devidamente registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
veja na tabela abaixo as recomendações de produtos comerciais e as respectivas doses para aplicação.
Fonte : Embrapa
Espaçamento, densidade e profundidade da semeadura.
O plantio pode ser feito na linha ou a lanço.
Quando feito a lanço, distribui-se as plantas manual ou mecanicamente, desta forma não há uma padronização de espaçamento, sendo assim não recomendamos ele.
Figura : Em (a) plantio de trigo em linha e e (B) plantio que foi feito a lanço
No plantio em linha o espaçamento recomendado é de 17 a 20 cm entre as linhas com profundidade da semeadura entre 2 a 5 cm.
Já a densidade (sementes viáveis/m2) será diferente conforme o local do plantio e cultivar utilizada.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina :
- Cultivares semitardias e tardias: 250 sementes viáveis/m²
- Cultivares médias e precoces : 300 sementes viáveis/m2 a 330 sementes viáveis/m2
Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo :
- Varia entre 200 sementes viáveis/m2 a 400 sementes viáveis/m ou 60 a 80 sementes por metro de linha de semeadura.
Minas Gerais, Goiás, Bahia, Mato Grosso e Distrito Federal :
- Trigo de sequeiro: 350 sementes viáveis/m2 a 450 sementes viáveis/m2.
Utilizar 400 sementes viáveis/m2 naqueles solos de boa fertilidade e sem alumínio trocável.
- trigo irrigado : 270 sementes viáveis/m2 a 350 sementes viáveis/m2
Principais doenças e formas de controle
Para o controle das doenças do trigo a melhor forma de controle é o integrado, que une várias técnicas e só faz o controle quando atinge o nível de dano econômico.
A técnica de controle que deve ser priorizada é a utilização de cultivares resistentes, porém ainda não há disponível para todas as doenças. Mesmo que esteja disponível a resistência pode durar pouco tempo, isso ocorre no caso do oídio e da ferrugem foliar.
Outras técnicas que podem ser utilizadas são o tratamento de sementes com fungicidas, deixar o cultivo livre de plantas invasoras/daninhas, a rotação de culturas e o controle químico.
O controle químico tem efeito rápido, mas é uma medida emergencial e que aumenta o custo de produção e é mais agressiva ao meio ambiente, portanto deve ser usado com racionalidade.
Ferrugem comum das folhas do trigo (Puccinia triticina) é uma doença causada por fungo, seus sintomas são pequenos pontos arredondados de coloração alaranjada (pústulas), principalmente na parte superior das folhas. Pode ocorrer em fase do trigo e causar perdas na produtividade de até 50 %, conforme estudos realizados para o sul do Brasil.
Seu controle pode ser feito ao utilizar as seguintes técnicas :
Utilização de cultivares resistentes; rotação de culturas; eliminação de plantas invasoras; controle químico (fungicidas).
Mancha amarela (Drechslera tritici-repentis) é caudada por um fungo que apresenta como sintomas pequenas manchas cloróticas, que evoluem e se expandem para manchas de cor palha, circundadas com halo amarelo. Geralmente atinge os cultivos com plantio direto em monocultura. Seus danos podem Levar a perdas de 50 % da produção.
Para o controle recomenda-se a utilização de :
Sementes tratadas com fungicidas; rotação de culturas; controle químico e eliminação de plantas invasoras.
Brusone (Pyricularia grisea) é causada por fungo que possui como sintomas o branqueamento das espigas e, no local de penetração do fungo, causa a morte acima desse ponto de penetração.
Assim como a giberela, a brusone é de difícil controle, para minimizar seus danos o plantio precoce deve ser feito.
Oídio (Blumeria graminis f. sp. Tritici) é causada por fungo e apresenta como sintoma a coloração branca sobre as folhas da planta, parecendo com um pó sobre elas. Os tecidos atacados apresentam coloração amarela e acabam morrendo. As plantas atacadas apresentam menor vigor, redução do número de espigas e peso dos grãos e as perdas podem chegar a 60%.
Algumas técnicas de controle para essa doença são: utilização de cultivares resistentes e pulverização com fungicidas.
Bacteriose (Xanthomonas axonopodis pv. Ondulosa) como o nome já indica é uma doença causada por bactéria e causa mancha estriada da folha do trigo.
Para seu controle recomenda-se : sementes tratadas, rotação de culturas e eliminação de plantas voluntárias na entressafra.
Principais Pragas e formas de controle
Pulgões, há diversos pulgões que podem causar danos nesta cultura, entre eles os mais frequentes são o Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum), o Pulgão-da-espiga-do-trigo (Sitobion avenae), o Pulgão-da-folha-do-trigo (Metopolophium dirhodum) e o Pulgão-do-colmo-do-trigo (Rhopalosiphum padi).
São afídeos que causam danos diretos pela sucção da seiva, reduzindo o número de grãos por espiga, o poder germinativo das sementes, o tamanho e peso dos grãos. Além disso podem ser transmissores de doenças virais.
Para controle recomenda-se primeiramente fazer o monitoramento para verificar se há necessidade do controle como mostra a tabela abaixo.
Fonte : Embrapa
Para controle deste inseto pode ser feito o controle biológico com o uso de insetos parasitoides e predadores, como microhimenópteros e joaninhas ou se necessário deve ser feito o controle químico com piretroides e neonicotinoides.
Percevejos barriga-verde (Dichelops furcatus) e (Dichelops melacanthus) são os mais frequentes na cultura do trigo.
Podem causar danos na fase de emborrachamento, redução de altura da planta, desenvolvimento atrofiado e aparecimento de espigas deformadas e brancas (espigas sem grãos ou com formação parcial de grãos).
O controle atualmente tem sido efetuado principalmente com uso de inseticidas. Verifique na tabela abaixo, após o monitoramento, se há realmente a necessidade de aplica-lo e se houver necessidade procure utilizar inseticidas sistêmicos (que são específicos para o inseto a ser controlado).
Fonte : Embrapa
O controle biológico também pode ser realizado, existem insetos que atuam naturalmente parasitando ou predando estes percevejos.
A Embrapa tabelou diversos produtos químicos que podem ser utilizados no controle das pragas e doenças citadas, para acessar clique aqui.
Colheita
A umidade ideal do grão é de aproximadamente 13%, para que ele alcance essa condição deve-se evitar que chuvas ocorram nesse período da maturação fisiológica dele. Para evitar que isso aconteça, como já falado anteriormente, o plantio deve ser feito com base no Zarc, mas caso isso ocorra a antecipação da colheita deve ser feita.
Fontes :
Bona, F. D,; Mori, C.; Wiethõlter, S. Manejo nutricional da cultura do trigo. Disponível em <http://www.ipni.net/publication/iarasil.nsf/0/47520FE3CAA3AEF183257FE70048CC16/$FILE/Page1-16-154.pdf> https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/196239/1/ID44570-2018InfTecTrigoTriticale2019.pdf
Embrapa
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/196239/1/ID44570-2018InfTecTrigoTriticale2019.pdf
Conab
https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/30875_6cae6f3d69af284bd9580d96776723cf
https://blog.aegro.com.br/doencas-de-culturas-de-inverno/
https://blog.aegro.com.br/pragas-do-trigo/
https://blog.aegro.com.br/preparo-do-solo-para-plantio-de-trigo/
https://blog.aegro.com.br/safra-de-inverno-2020/
http://www.brasil.gov.br/noticias/economia-e-financas/2018/06/agricultura-familiar-brasileira-e-a-8a-maior-produtora-de-alimentos-do-mundo
Fancelli, A.L., 2008. Pesquisas certificam espécies para rotação de culturas. Disponível em < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Cobertura03.pdf>
Pires, J.F. O cultivo do trigo. Disponível em < https://www.spo.cnptia.embrapa.br/conteudo?p_p_id=conteudoportlet_WAR_sistemasdeproducaolf6_1ga1ceportlet&p_p_lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&p_r_p_-76293187_sistemaProducaoId=3704&p_r_p_-996514994_topicoId=3047