Agricultura Regenerativa
A agricultura emprega 1/3 da população mundial, ficando atrás somente do setor de serviços e possui um enorme impacto na globo, seja erradicando a fome, produzindo a abundância que nos permitem viver em cidades, domesticando espécies com potencial de uso, quanto causando impactos ambientais e que contribuem para o aquecimento global, como o esgotamento de aquíferos, poluição por agroquímicos (pesticidas e fertilizantes), desmatamento, antibióticos e hormônios na produção de carne industrial.
A relação homem e natureza vai além das árvores e do pátio que observamos de dentro de nossas casas e pela janela. Toda a nossa casa, estruturas, roupas, o computador que usamos um dia já foi natureza. A janela já foi árvore que virou tábuas de madeira, a cortina é uma fibra de algum subproduto, o queijo na mesa já foi 10 L de leite misturados com renina para coagular.
E para que tudo continue sendo, precisamos continuar fazendo. Sim, a agricultura nunca acabará, ela é pra sempre e é intrínseca a gente, só temos que fazer de forma sustentável para que seja infindável e continuamente benéfica, tanto para os homens quanto para o planeta. E sendo sincero, homens e planeta são um só, não existe separação, pois coexistimos. Podemos dizer que somos o planeta e o planeta somos nós.
Como a Agricultura afeta o Mundo
Comida e agricultura estão relacionadas com qualquer uma das grandes mudanças e desafios que a humanidade enfrenta no século 21: fome; pobreza; problemas ambientais; mudanças climáticas; erosão da diversidade cultural e da saúde.
A agricultura vai muito além do uso de recursos naturais e produção de commodities. As práticas agrícolas determinam de fato a forma que humanos, seja em cidades ou em áreas rurais, se relacionam com o meio em que vivem, consumem e administram seu patrimônio e herança biológica e cultural.
Hoje em dia, comida e agricultura estão no centro de todas as preocupações, e para enfrentar os desafios de hoje e do amanhã, precisamos desenvolver a nova "Agro cultura", que mantém a diversidade e alcança a sustentabilidade.
Mudanças Climáticas
A produção de eletricidade, as indústrias, os transportes, e certamente a agricultura são grande emissores de CO2, gás que provoca o efeito estufa (Gases do Efeito Estufa, GEE), responsável pelas mudanças no clima que vemos atualmente. Junto com a silvicultura (setor madeireiro) e outras formas de uso da terra, a agricultura é responsável por pelo menos 25% das emissões de GEE gerados por humanos.
Também possui papel central em acabar com essa crise e criar um futuro sustentável e confiável, sem poluição de carbono. Um futuro onde providenciaremos nossa crescendo população mundial com alimentos saudáveis e frescos, cultivados em ecossistemas com solos sustentáveis.
A perca dos solos férteis e da biodiversidade mundial, junto com a perca de sementes e conhecimentos indígenas, geram uma ameaça mortal à nossa sobrevivência futura.
Com a velocidade que degradamos o solo através da descarbonificação, erosão, desertificação, poluição química, etc., sofreremos sérios danos na saúde pública, devido ao fornecimento de alimentos degradados e de baixa qualidade, com menos nutrientes e sem minerais importantes, além de literalmente não possuirmos solo superficial para produzir. Sem proteger e regenerar o solo dos 2 bilhões de hectares de lavouras, 3 bilhões de hectares de pastos e 4 bilhões de hectares de florestas, será impossível alimentar o mundo, manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, ou parar a perca de biodiversidade.
Agricultura Regenerativa
Diferentes lugares, diferentes pessoas, diferentes climas... não existe cultura padrão ou normal, cada uma é adaptada para condições regionais, históricas e sociais. A forma que interagimos com o meio onde nos encontramos é diferente uma da outra. O diferente é bom, permite e possibilita o desenvolvimento de atividades em locais e culturas diferentes.
Cada população possui uma cultura e um agri (forma de interagir) únicos, ou seja, cada população possui sua agricultura, baseada em fatores que influenciam a região e a população.
Esses povoados estão instalados e vivem há gerações em cada localidade. Esse tempo de permanência e interação com o meio gera experiência e produz conhecimento, de forma intencional e não intencional também. Depois de anos fazendo a mesma atividade, possivelmente junto dos pais, avós e bisavós, aprende-se muitas coisas envolvendo a idéia da atividade, como iniciar, por onde começar, como realizar, transportar, processar, comercializar, e recomeçar ou perpetuar a atividade.
O propósito da Agricultura Regenerativa é conservar e reabilitar a abordagem de sistemas alimentícios e agrícolas, independente da forma como é feita.
O foco é a regeneração da camada superficial do solo, aumento da biodiversidade, aprimorar o ciclo das águas, elevar serviços ecossistêmicos, apoiar a biofixação (captura e armazenamento de carbono atmosférico por processos biológicos) e fortalecer a vitalidade e saúde dos solos agrícolas.
Práticas incluem a reciclagem da maior quantidade de resíduos possíveis, compostagem, separação e triagem de resíduos, utilização de materiais processados e compostados, originários de fontes externas, e utilizados nas propriedades.
Agriculturas e Práticas Sustentáveis
A agricultura regenerativa vai além de "não fazer mal" à terra, e sim melhorá-la, utilizando tecnologias que regeneram e revitalizam o solo e o meio ambiente. A agricultura regenerativa torna solos saudáveis, capazes de produzir alimentos densos em nutrientes e de alta qualidade, ao mesmo tempo que melhora, ao invés de degradar a terra, levando à fazendas produtivas, comunidades e economias saudáveis.
São práticas agrícolas orgânicas e permaculturais, dinâmicas e holísticas, que incluem cultivo mínimo ou plantio direto (sem revolvimento do solo), plantas de cobertura, rotação de culturas, compostagem, abrigos móveis de animais e pastoreio racional, entre outras práticas, que visam aumentar a produção alimentícia, a renda do agricultor e especialmente, o solo superficial.
São diversas práticas, agriculturas, pecuárias e formas de uso da terra que criam sistemas agroalimentares regenerativos e ecossistemas naturais saudáveis:
>Aquicultura
>Agroecologia
>Agroforestra
>Carvão Vegetal (Biochar)
>Compostagem
>Culturas Perenes
>Manejo de Pastagens
>Pastoreio Racional Voisin (PRV e pastoreio holístico)
>Sistema de Plantio Direto (SPD)
>Sistema Silvipastoril
Algumas práticas:
>Fungicultura
>Cercamento
>Infraestruturas de baixo custo
>Ferramentas apropriadas
>Legislação e considerações legais
>Defumação
>Animais a pasto (carne, leite e ovo)
>Abatimento na fazenda (on farm)
>Rotação de culturas
>Micro usinas e beneficiamento
>Solo vivo (nutrição da teia alimentar do solo)
>Microverduras
>Plantio direto (sem revolvimento)
>Fluxo de trabalho
>Contabilidade e Finanças
>Planejamento da safra
>Recursos humanos (trabalhar com pessoas)
Potencial
A mudança global para a agricultura regenerativa pode:
Alimentar o mundo: levando em consideração que a agricultura familiar alimenta o mundo com menos de 1/4 de toda terra cultivável.
Reduzir as emissões de GEE: um sistema agroalimentar pode ser fundamental para as mudanças climáticas. O atual sistema alimentar industrial é responsável por até 55% de todas as emissões de GEE globais.
Reverter as mudanças climáticas: somente a redução das emissões é insuficiente. Felizmente, de acordo com cientistas podemos reverter de fato as mudanças climáticas ao aumentar a fixação (e retirada da atmosfera) de carbono no solo.
Aumentar a produção: em casos de climas extremos e mudanças climáticas, o rendimento de fazendas orgânicas é consideravelmente maior que em fazendas convencionais.
Criar solos resistentes à seca: a adição de matéria orgânica no solo melhora características como a retenção de água. A agricultura orgânica regenerativa agrega matéria orgânica ao solo.
Revitalizar economias locais: a agricultura familiar representa uma oportunidade para impulsionar economias locais.
Preservar conhecimento tradicional: entendendo sistemas agrícolas indígenas é importante para entender a ecologia local com finalidade de desenvolver sistemas agrícolas orgânicos e regenerativos.
Estimular a biodiversidade: a biodiversidade é fundamental para a produção agrícola e segurança alimentar, também é parte fundamental na conservação do meio ambiente.
Restaurar pastagens: 1/3 da superfície terrestre são pastagens, 70% das quais já foram degradadas. Podemos restaurá-las utilizando PRV e manejo de pastagens.
Melhorar a nutrição: atualmente nutricionistas insistem na necessidade de agroecossistemas mais diversos, a fim de garantir uma produção de nutrientes diversificada nos sistemas agrícolas.
Características e Como Funciona
Um solo saudável estoca carbono. Uma grande quantidade de carbono é retirada da atmosfera pelas plantas através da fotossíntese. Esse é o motivo de promover práticas agrícolas que aumentam a quantidade de matéria orgânica no solo, ajudando a sequestrar e fixar mais carbono: como limitar o uso de agroquímicos sintéticos, realizar rotação de culturas, reduzir o revolvimento do solo e utilizar resíduos da safra como compostagem.
Estudos demonstram que solos saudáveis são mais resistentes a secas e erosão de chuvas fortes. Um solo saudável é capaz de reter mais água, aumentando sua habilidade de suportar o crescimento de plantas e microrganismos.
Microrganismos do solo representam 1/4 da biodiversidade mundial, e auxiliam a nutrir e proteger a biodiversidade vegetal e animal, criando ecossistemas sadios e vigorosos que são mais resistentes aos estresses das mudanças climáticas.
Trabalhando de perto com agricultores, sabemos que o trabalho deles é indispensável para a economia global e para sistemas alimentares - principalmente a agricultura familiar. Os agricultores conhecem melhor suas terras e são os atores que levam à transição para a agricultura regenerativa. Nosso objetivo é apoiar essa mudança, e acompanhá-los na sucessão e transmissão dos conhecimentos.
Desenvolver relações boas e duráveis com agricultores permite estabelecer contratos de longo prazo, com sistemas de gestão que vão de acordo com a evolução dos custos de produção ao invés das variações de mercado. Contratos como esses ajudam a garantir lucros estáveis e mitigar efeitos da flutuação de mercado nos preços dos produtos, permitindo agricultores a se projetarem e investirem no futuro - incluindo investimentos em práticas regenerativas e sustentáveis.
Animais são partes integrais na agricultura regenerativa. Um alto bem estar animal também é fundamental na regeneração das fazendas, reforçando a sustentabilidade econômica, performance e competitividade. Produtores de leite com altos padrões de bem estar animal possuem maiores produções e leite de qualidade. O mesmo serve para produtores de carne e ovos, sendo que para padronizar o bem estar animal, utiliza-se as 5 Liberdades, um padrão reconhecido internacionalmente.
Fontes:
https://regenerationinternational.org/why-regenerative-agriculture/
http://www.regenerativeagriculturedefinition.com/
https://www.danone.com/impact/planet/regenerative-agriculture.html
https://www.regenerativeagriculturebook.com/
https://www.climaterealityproject.org/blog/what-regenerative-agriculture